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A METAFÍSICA

COMPARAÇÃO ENTRE A METAFÍSICA ARISTOTELICA E AS DE MAIS EXISTENTES 

0.1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho é intitulado "Comparação entre a metafísica aristotélica e as de mais existentes" na qual apresentaremos numa primeira fase o pensamento de cada filósofo e culminará com a respectiva comparação. Os outros filósofos que nos ajudarão na comparação são: Parmenides e Platão. O enfoque deste tema é a cadeira de Metafísica.

Actualmente tem sido difícil falar sobre a metafísica sem tocar a figura M. Heidegger, mas preferimos não incluir no presente trabalho por isso a comparação será limitada apenas na época antiga para tentarmos compreender a semelhança e a diferença entre assas três figuras (Aristóteles, Parmênides e Platão).

O objectivo geral desta pesquisa é comparar a metafísica aristotélica com as de mais existentes. E para o alcance desse objectivo recorremos a alguns específicos que são: descrever o pensamento metafísico de cada filósofo e explicar os conceitos básicos da metafísica de cada um.

Para a realização da pesquisa foi utilizado o método hermenêutico que consistiu na leitura e interpretação das obras a ser apresentadas na bibliografia final.

Quanto á estrutura, o presente trabalho apresenta a introdução que é essa primeira parte, depois o desenvolvimento dos conteúdos e por fim as considerações finais.

Antes de fazermos uma comparação entre a metafísica aristotélica e as de mais existentes (metafísica de Parmênides e metafísica platónica sugerida nesse trabalho) achamos que seria pertinente primeiro duma forma muito sintética saber o que significa a própria metafísica, neste caso, isso irá servir de base para compreendermos melhor se se trata realmente de uma metafísica ou apenas algo semelhante.

No dizer de Marilena Chaui a palavra metafísica foi empregada pela primeira vez por Andrônico de Rodes, por volta do ano 50 d.C., quando recolheu e classificou as obras de Aristóteles que, durante muitos séculos, havia ficado dispersos e perdidas. Entretanto, com esta palavra Ta meta physika o organizador dos escritos aristocráticos indicava um conjunto de escritos em que na sua classificação, localizavam-se após os tratados sobre a física ou sobre a natureza (Cfr. Chaui, 2000, p. 219).

Ademais, no Dicionario basico de Filosofia de aultoria de Japiassu, encontamos a mesma definição da palavra metafísica.

Não obstante, para Nayla Farouki a metafísica "é um subconjunto da filosofia. Ela tem por tarefa conferir ordem e sentido a esse conjunto de interrogações fundamentais que rodeiam, a montante e a jusante, a totalidade do discurso humano sobre o mundo, sobre os homens e sobre as suas criações" (Cfr. Farouki, 1995, p. 11).

Depois de trazermos em linhas gerais o que podemos entender por metafísica, não querendo desviarmos do tema principal que é a comparação entre a metafísica aristocrática e as de mais existentes. Achamos melhor, primeiramente trazer o pensamento metafísico dos três pensadores separados para depois fazermos a respectiva comparação.

1.1 Metafísica aristotélica

Aristóteles (384-322 a.C.) foi um filósofo grego nascido em Estagïra, Macedônia (Japiassu, 2005, p. 17). Aristóteles nunca usou o termo metafísica mas sim filosofia primeira, e para ele, a filosofia primeira "é o estudo dos primeiros princípios e das causas primeiras de todas as coisas e investiga o Ser enquanto Ser" (Op. Cit., 2000, p. 219).

O primeiro grupo de investigação emprendido por Aristóteles na Metafísica versa principalmente sobre a possibilidade e sobre o princípio de uma ciência do Ser. Não obstante, o problema consiste em saber se uma tal ciência é possível. A primeira condição para a sua possibilidade é que seja possível reduzir os diversos significados do Ser a um único significado fundamental (Cfr. Abbagnano, 2007, p. 54).

Chaui aponta como principais conceitos da metafísica aristotélica os seguintes: Primeiros princípios e causas primeiras. Sendo assim, os primeiros princípios são os três (3) princípios lógicos, isto é, Identidade, Não contradição e Terceiro excluído. Ademais, Aristóteles realça que esses princípios são ontológicos porque definem as condições sem as quais um Ser não pode existir e nem ser pensado (Chaui, 2000, p. 219).

As causas primeiras por sua vez, referem-se a explicação da essência e também da origem e o motivo da existência da essência. Sendo assim, os causas primeiras dizem respeito as perguntas: O que é? Como é? Porque? e Para quem? São quatro (4 ) as causas primeiras:

Causa material, isto é, aquilo que uma coisa é feita.

Causa formal, isto é, aquilo que explica a forma de uma essência.

Causa eficiente, isto é, aquilo que explica uma matéria que recebeu uma forma para construir uma essência.

Causa final, isto é, a causa que dá o motivo, a razão ou finalidade para alguma coisa existir e ser tal como ela é (Ibidem, p.219).

A metafísica de Aristóteles começa com a questão "o que é a Substância?". Tal é o tema do principal grupo de investigações na metafísica. Para Aristóteles, a Substância é a causa primeira e o seu próprio de toda a realidade determinado. A Substância é aqui considerada como o princípio (arché) e a causa (aitia). Ademais, Aristóteles entende a Substância como a essência do Ser, como aquilo que a razão pode entender e demonstrar do Ser (Abbagnano, 2007, p. 157).

A existência de uma Substância imóvel é demonstrada por Aristóteles, pela necessidade de explicar a continuidade e a eternidade do movimento celeste. Assim destinguem-se dez categorias de ser, sendo que a primeira é a Substância; as restantes novo constituem a classe dos acidentes. São os acidentes a seguir:

Qualidade, a forma ou determinação da substância.

Quantidade, a determinação da substância que permite atribui-la as partes distintas das outras.

Relação, a ligação ou referência que a substância, ou até o acidente, estabelece com outra substância ou acidente.

Tempo, movimento apropriado disponivel para que uma coisa se realize.

Lugar, espaço que um corpo substanciado ocupa em relação a outros corpos.

Acção, o que a substância faz usando as suas faculdades causando efeito entre si mesma ou noutros corpos circundados por uma substância.

Estado, conjunto de bens ou instruções que, por sua habilidade, completamentam a natureza da substância, permitindo a preservação e conservação da mesma ou de outras substâncias corporeas.

Posição, lugar ou postula relativa ocupada pela substância ou parte dela face a outras.

Paixão, sentimento ou emoção, desencadeado por um agente que, ao sobrepor-se à lucidez e à razão, provoca sofrimento numa determinada substância (Biriate e Geque, 2013, pp. 138-139).

1.2 Metafísica parmênidiana

Parmênides era cidadão de Eleia ou Velia, fundador do eleatismo, educado na filosofia do pitagórico Amenias e seguiu vida pitagórica, sendo ele o primeiro a expor sua filosofia em hexâmentro ( Abbagnano, 2007, p. 46).

"O Ser é e não pode não Ser" é a tese principal de Parmenides. Sendo assim, essa tese para ele exprime o sentido fundamental do Ser em geral e constitui o princípio director da sua investigação racional. Ademais, a necessidade a respeito do tempo é eternidade, isto é, comtemporaniedade, a respeito do múltiplo é unidade, a respeito do devir é imutabilidade. Portanto, a eternidade não é concedida por Parmênides como duração temporal e infinito mas como negação do tempo. Para ele, "o Ser nunca foi nem nunca será porque é agora todo de uma vez, uno e continuo"(Ibidem, p. 47).

Abbagnano conta que pela primeira vez "o problema de Ser foi posto por Parmênides como umo problema metafísico-ontologico, ou seja, na sua generalidade máxima e não já tão-só como problema físico" (Ibid., p. 47).

Para Farouki, Parmênides abre o caminho da existência, postulado do Ser e o conhecimento, tentando demostrar a impossibilidade da concepção de não Ser. No entanto, o Ser é o seu Ser Imóvel e Imutável (Farouki, 1995, p. 47).

A pergunta "o que é o Ser?" a que Parmênides quis formular a resposta não é equivalente a pergunta "o que é a natureza?". De salientar que em primeiro lugar, o Ser que Parmênides fala não é somente a natureza mas também o homem, das comunidades humanas ou de todas as coisas que possa imaginar. Em segundo lugar, não tem direcção com as aparências naturais e impiricas porque fica além das aparências (Abbagnano, 2007, pp. 47-48).

Na metafísica parmênidiana aquilo que hoje chamamos de categoria de modalidade, isto é, a necessidade é tudo para ele visto que "O Ser verdadeiro ou autêntico, o Ser de que não se pode duvidar e que só o pensamento pode revelar é o Ser necessário" Ademais, "O Ser é e não pode não Ser" (Ibidem, p. 48).

1.3. Metafísica platónica

Platão nasceu em 328 a. C., proveniente de uma família da antiga nobreza. Descendente de Solón por parte de mãe e de Rei Codro por parte de pai.

O impasse criado pela divergência de Heráclito de Éfeso (mutação, devir) e Parmênides de Eleia (permanência, imutabilidade), fizeram com que Platão chegasse a concluir que existem dois mundos. O mundo sensível e supra sensível (mundo das ideias).

No dizer de Chaui, Platão considerou que Heráclito tinha razão no que se refere ao mundo material e das opiniões. A matéria, diz Platão é por essência e por natureza, algo imperfeito, que não consegue manter a identidade das coisas, mudando sem cessar, passando de um estado a outro, contrário ou oposto. Ademais, o mundo material é imutável e contraditório, sendo por essa razão este mundo apenas nos leva nas aparências. Por esso motivo diz Platão, Parmenêdes está certo ao exigir que a filosofia abandone esse mundo sensível e ocupe-se com o mundo verdadeiro, invisível aos sentidos e visível apenas ao puro pensamento. Sendo assim, o verdadeiro é o Ser, uno, imutável, identifico a si mesmo, eterno, puramente inteligível (Chaiu, 2000, p. 212).

Segundo Farouki "o mundo das ideias, para Platão, construí-se num domínio transcendente, que se situa para lá da natureza empíricas" sendo assim, a existência do mundo das ideias leva Platão a fazer uma distinção clara entre a realidade e aparência (Farouki, 1995, p. 50).

Segundo Platão, a alma aspira ao Bem Supremo e ao mundo das Ideias em que tem a sua origem e que deseja reintegrar. Sendo assim, o conhecimento desse mundo da realidade absoluta passa da reminiscência. Portanto, só assim a alma humana lembra-se do mundo das Ideias, que conhecia antes de se encontrar ligada à matéria (Ibid., p. 50).

1.4. Comparação

Depois de apresentarmos o pensamento metafísico dos três filósofos sugeridos nesse trabalho (isto é, pensamento metafísico de Aristóteles, Parmênides e Platão) chegamos finalmente ao ponto essencial da nossa abordagem que é comparar as visões metafísicas acima apresentadas.

Antes de mais nada, de referir que o ponto de partida da metafísica aristotélica é do mundo sensível para o mundo supra sensível, enquanto que para Platão foi o contrário, isto é, do supra sensível ao sensível. Faremos numa primeira fase a comparação da metafísica aristotélica com a dos seus dois Predecessores (Parmênides e Platão).

A primeira comparação é mesmo sobre a origem da metafísica, sendo assim, embora ela (metafísica) tenha começado com Permênides e Platão atribui-se a Aristóteles o seu nascimento por duas (2) principais razão:

Aristóteles diferente de Parmênides e Platão não julga o mundo das coisas sensível, ou a Natureza, um mundo aparente e ilusório. Não obstante, para ele é um mundo verdadeiro e real cuja essência é, justamente, a multiplicidade de seres e a mudança incessante. Ademais, em lugar de afastar a multiplicidade e o devir como ilusões sombras do verdadeiro Ser, Aristóteles afirma que o ser da Natureza existe e é real, e se não bastasse o seu modo de existir é a mudança (Chaui, 2000, p. 217).

Uma outra diferença é o facto de Aristóteles considerar a essência verdadeira das coisas naturais, dos seres humanos e de acções não está no mundo inteligível, separado do mundo sensível, onde as coisas físicas ou naturais existem e onde vivemos. Diz Aristóteles que as essênciais, estão nas próprias coisas, nos próprios homens, as próprias acções e é tarefa da filosofia conhecê-las ali mesmo onde existem e acontecem (Ibidem, p.217).

Farouki começa por considerar Parmênides como o pai da filosofia, isto é, da metafísica, uma vez que foi ele o primeiro a levantar a questão do Ser (Farouki, 1995, p.46).

Neste sentido, Parmênides abre o caminho da existência, postulado do Ser e o conhecimento, tentando demonstrar a impossibilidade da Concepção de não-ser. No entanto, o seu Ser é Imóvel e Imutável, por esta razão contexta fortemente a ideia do Devir a Ser defendida por Heráclito de Éfeso (Ibid., p. 47).

Encontramos uma diferença entre a ontologia de Parmênides e a de Platão. Para Parmênides, o mundo sensível das aparências é o Não-Ser em sentido forte, isto é, não existe, não é, não tem realidade nenhuma em suma, é um nada. Não obstante, para Platão o Não-Ser não é o Puro nada. Entretanto, é alguma coisa, isto é, ele é o outro do Ser (Chaui., 2000, p. 212).

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A etimologia da palavra metafísica deriva do grega, assim a palavra na sua tradução literal tem o sentido de além da física ou seja depois do físico, depois da natureza.

No desenvolvimento do trabalho apresentado procuramos em linhas gerais fazer a comparação entre a metafísica aristotélica e as de mais existentes. Sendo assim, Aristóteles entende por metafísica ou filosofia primeira o estudo dos primeiros princípios e das causas primeiras de todas as coisas, e investiga o Ser enquanto Ser. Ademais, na sua metafísica ele parte do mundo sensível para explicar o mundo supra sensível. Não obstante, Platão parte do mundo inteligível para explicar a imperfeição do mundo sensível. Enquanto que para Parmênides o mundo sensível que Heráclito sempre se referiu não passa apenas de uma ilusão, isto é, não é real, não existe, não passa de um puro nada.

As afirmações do parágrafo acima levou-nos a concluir que, o que difere entre Aristóteles e os seus dois predecessor (Parmênides e Platão) é o facto de, Aristóteles ser um existencialista por excelência enquanto que Parmênides e Platão são essencialistas.

3. BIBLIOGRAFIA FINAL

ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia 1, Volume 1, Editora Presença, 7 Edição, Lisboa, 2007.

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000.

FAROUKI, Nayla. A Metafisica. Tradução de Fernanda Oliveira. Coleções Dominios, Lisboa, 1995.

JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 3aed. Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 2005.

GEQUE, Eduardo, BIRIATE, Manuel. Pré-Universitário:Filosofia 12, longman, Maputo, 2013.

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